Em 2003, o nome de Guga Ferraz circulou na mídia como o artista que “vandalizou” as placas de pontos ônibus do Rio de Janeiro, após colar nas mesmas adesivos em formato de chamas de fogo, como forma de sinalizar os recorrentes incêndios a veículos que vinham ocorrendo na cidade. Desde então, outras ações realizadas pelo artista chamaram atenção da polícia e dos veículos de comunicação. Em seu trabalho, Guga Ferraz lida com processos de exclusão e violência urbana, abordando relações entre o indivíduo e a cidade e a própria cidade como lugar. O artista já utilizou muros, ruas, viadutos, placas de sinalização e até mesmo ônibus como suportes de suas intervenções, além de realizar trabalhos em galerias e espaços institucionais. Este artigo consiste em uma análise crítica de trabalhos de Guga Ferraz, realizados nas ruas e ou em espaços institucionais, que explicitam conflitos e tensões do e no espaço público. Tal conjunto de obras configuram um recorte cronológico que se concentra entre 2003 e 2016 e está diretamente ligado ao contexto político e social do Rio de Janeiro no momento de execução de cada obra. Nos trabalhos realizados na década de 2000, como Ônibus Incendiado (2003), Dormindo (2006) e Cidade Dormitório (2007), o artista discute a violência urbana e os problemas habitacionais do Rio de Janeiro. Já os trabalhos que datam do início a meados da década de 2010, como Até onde o mar vinha, até onde o Rio ia (2010 – 2014), Até onde o morro vinha, até onde o Rio ia (2014) e Meia casa, meia vida (2016) são realizados no momento em que a cidade se prepara para receber grandes eventos esportivos (Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016) e lidam com outros processos de violência, um tipo de violência contra a cidade e sua população, que têm pedaços de sua história arrancados e famílias removidas de suas residências, sob o pretexto de progresso, embelezamento e revitalização, palavra tão repetida em discursos políticos desse momento.
Publicado nas Atas do XIII Encontro de História da Arte: Arte em Confronto, 2019