Mery Horta é passista da Mocidade Independente de Padre Miguel, artista visual e pesquisadora. Na intervenção urbana “Brilho no asfalto”, realizada em um ensolarado domingo de 2018, a artista desfilou em ritmo de samba em um trecho da Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro, no sentido Zona Oeste, reproduzindo o mesmo percurso executado pelas principais escolas de samba cariocas antes da inauguração do Sambódromo em 1984. Enquanto se movimentava pela avenida, a artista deixava como rastro uma nuvem de purpurina prateada, interferindo na visualidade do asfalto e ativando lembranças dos antigos carnavais. A Avenida Presidente Vargas, um dos maiores símbolos do Rio de Janeiro moderno e capitalista, foi ressignificada por alguns instantes, recebendo de volta um pouco da poesia que deixou de ter quando os desfiles mudaram de localização. Um dos artifícios utilizado por Mery é uma indumentária de plástico criada com sacos de sacolé (ou geladinho), semelhante ao método adotado por camelôs dos trens do Rio para embalar lotes de doces que são vendidos nos vagões, incorporando na performance memórias afetivas de seus percursos de trem para chegar ao bairro de Padre Miguel, onde se localiza a quadra da Mocidade. Para produzir o efeito visual desejado, a artista preencheu os saquinhos com purpurina prateada e os soltava com sua própria movimentação, fazendo com que o brilho se espalhasse pelo espaço.
“Brilho no asfalto” foi realizada para a exposição coletiva “Percursos” (curadoria de Thiago Fernandes), na qual 5 artistas (Luana Aguiar, Mariana Par, Mery Horta, Rodrigo Pinheiro e Thales Valoura) foram convidados a realizar intervenções em percursos no entorno do Centro Cultural Light, onde foi apresentada a mostra em fevereiro de 2019.
Registros fotográficos: Paula Nogueira